FTP 2008, uma performance de Luis DuVa
Tenho escrito algumas coisas sobre o I FTP - Festival de Tecnologia de Petrópolis o meu outro blog focado em tecnologia, o Outra Rede!. No entanto, mais de 24 horas após assistir a performance de Luis DuVa, ainda não tinha claro o que deveria escrever e como contextualizar as emoções naquele blog. Resolvi então escrever aqui no Coisa Fácil, coração de mãe, onde cabe de tudo um pouco.
Bom, conforme descrição do evento, a apresentação de Luiz DuVa, Concerto para laptop "trata-se de um ensaio poético que parte da livre interpretação de diferentes paisagens emocionais, extraídas da memória de pessoas anônimas, para através da sua rearticulação ao vivo propor uma análise das complexas relações entre o passado, o presente e a verdadeira realidade dos acontecimentos".
Antes de prosseguir, gostaria de rever meus conceitos. Sempre entendi arte como uma das melhores maneiras de expressão do ser humano. Entretanto, acabamos sempre tomamos arte como o belo, quando não necessariamente é assim. Deve ser aquela nossa indelével marca que nos leva a buscar o que é melhor e maior que nós mesmos.
É muito difícil descrever como funciona a performance de Luis Duva. Em termos objetivos, trata-se de uma mixagem de imagens e sons em tempo real, gerando reações nas pessoas. Acho que o autor se propõe que as reações das pessoas façam parte da obra. Não há como não dizer que não existam reações. Ao sair da apresentação os comentários limitavam-se aos aspectos objetivos: diferente, estranho. É algo que você ou ama ou odeia.
Acho que hoje em dia, tão agitado, percebe-se um imediatismo que acaba nos forçando a tomar partido sem refletir muito sobre os assuntos. No caso particular da cultura, em suas diversas manifestações, temos visto uma forte presença do niilísmo, onde o nada, o sem sentido -virados do avesso-, acabam fazendo sentido e as pessoas descobrem neste sem sentido um elevado sentido, como se fosse algo nobre e belo. Tanto pela complexidade de compreender quanto pelo impacto da obra, acabamos tomando a análise mais complexa: é provavel que exista uma mensagem, um recado a ser dados, e esquecemos a possibilidade que que a obra possa ser ruim e só isso.
A obra Concerto para laptop mostra diversas combinações de cenas fortes, intensas, que nos lembram um estupro, uma briga, uma violação, culminadas numa simbiose entre o agressor e a vítima, regado ao som intenso e incômodo da obra. A conclusão desta epopéia esquizofrênica é uma sintetização de vozes, como que na cabeça do agressor ou na nossa, com a frase "Eu não me lembro..."
Uma obra de extremo bom gosto e inteligência, superando a capacidade de percepção das mentes mais modestas ou um espectáculo bizarro de non-sense? A minha conclusão pessoal da obra, iluminada pela Navalha de Occam, é simples: niilísmo e agressão, tanto na obra quanto para quem assiste. Espectáculo bizarro de non-sense.
Para dar uma idéia da coisa, estou colocando aqui o vídeo da performance suspension, também de Luis DuVa. A mesma também foi apresentada em vídeo também no FTP. Mas use a sua abstração, imagine que você está lá na sala, assistindo ao vivo...
"Suspensão é uma composição audiovisual apresentada em uma performance multimídia onde as imagens e os sons são manipulados ao vivo e em tempo real.Baseia-se no contraponto entre uma ação física realizada em cena pelo performer -- um salto-- e imagens previamente gravadas desta mesma ação.
O encadeamento entre as ações contrapõe o fugaz momento de sua suspensão real [a que se dá em cena] e da que se dá na distensão eletrônica feita através da articulação dos diferentes momentos de suspensão produzidos pela manipulação ao vivo".
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